segunda-feira, 28 de abril de 2014

Espelho, espelho seu...

     
  Foi-se o tempo em quem o pensamento europeu - mais precisamente francês - era o grande satã da América Latina. Quem tinha a sorte de ler os filósofos franceses - uma raridade num país em que a maioria não alfabetizada precisava se ajoelhar diante de qualquer "autoridade" - era demonizado por sua majestade,acusado e condenado como repelente inimigo da corte.
    
     Hoje, o cenário é outro. Vemos o pensamento estadunidense se insinuando como vedete para o resto de um mundo "recalcado" e com poucas chances de originalidade no ramo filosófico contemporâneo. Caso os chineses superem todo mundo economicamente, teremos uma enxurrada de livros exaltando o pensamento chinês piscando nas vitrines das livrarias?
Espelho Mágico na versão de Walt Disney

    Ao ler o artigo "Beleza Roubada", do filósofo Luiz Felipe Pondé, percebo o que o materialismo tem feito com todos nós. Criou-se um padrão de beleza, à moda Hitleriana, onde aqueles que não se enquadram nele são tidos como ressentidos e invejosos. Esse é um precedente perigoso por reduzir as oportunidades defendidas pela democracia a padrões superficiais e transitórios. O que é beleza física hoje pode não ser no dia seguinte por uma série de fatores aleatórios.

   Lembrei-me, também, de uma ficção estadunidense que virou  best seller : "Feios", "Especiais", "Perfeitos" e "Extras", quadrilogia escrita por Scott Westerfeld que descreve muito bem o narcisismo, antes uma fase temerária da adolescência, hoje uma forma asséptica de gerar lucros. Os livros falam de uma sociedade futurista onde ser feio é anomalia. A ficção não vai tão distante do hedonismo atual. Não satisfeitos em excluir pessoas religiosamente, financeiramente, educativamente, entre outras exclusões, exclui-se também pela aparência física. Mas não somos nós, os humanos, que criamos os padrões de beleza, a cada século? Não somos responsáveis pelo que, deliberadamente, criamos?

  Não raro, o pensamento crítico do Pondé é motivo de grandes polêmicas. Seriam os feios invejosos e ressentidos. Seriam os bonitos, segundo a lógica do mercado, os únicos abençoados pelo deus do momento?

  Abaixo, o link com o texto do filósofo:


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Colhendo água do ar

       Chega a ser supreendente de tão prático e simples. 

     Quando li algo a respeito no site Hypescience,eu não me contentei e fui pesquisar algo mais. Descobri o Architecture and Vision, site de trabalho do arquiteto Arturo Vittori.


    Um dos projetos desenvolvidos por ele junto a Andreas Vogler chama-se "Warkawater" e, pasmem, faz o singelo trabalho dos deuses que orvalham as árvores e arbustos, ofertando aos poetas e românticos, insumos para suas criações. O objetivo dessa simples criação é colher água do ar e saciar a sede de quem mais precisa. Muitas pessoas questionam acerca da funcionalidade do invento, mas segundo afirmam seus criadores, ele pode absorver entre 30 e 40 litros de água em 24 horas. E o detalhe mais assustador para políticos e empresas que lucram milhões e atendem a poucos, o custo para a confecção de cada uma dessas "jarras" (9,15 metros de altura) em bambu e tecido em prolipropileno é muito pequeno em relação ao custo benefício para os necessitados.


         Para aqueles que vivem prevendo guerras sangrentas por causa da escassez de água, que desde os primórdios foi dada e não vendida à raça humana, nada como uma ideia simples, pacífica , eficiente e eficaz para saciar a sede de muitos. Arturo Vittori pretende instalar 2 dessas "jarras" na Etiópia e busca parceiros e investidores dispostos a apoiarem formas alternativas para diminuir a sede no mundo. Na África, cerca de 1 bilhão de pessoas (!) sofrem por falta de água potável.


         Em diversas áreas, projetos simples, ecológicos e que beneficiem a muitos sempre são bem-vindos. Que o "Warkawater" alcance seu objetivo.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Humanum est

                                                                                                Lecy Pereira Sousa
                      
Zeus, pai de Cronos - Mitologia Grega
Acabei de ler o texto escrito pelo jornalista e escritor colombiano, Héctor Abad e traduzido por Francesca Angiolillo, editora- adjunta da “Ilustríssima” que integra o jornal Folha de São Paulo (20.04.2014).

Intitulado “O resto é silêncio”, o texto ressalta que Gabriel García Márquez, falecido a 17 de abril de 2014, era um escrito imenso, mas deste mundo.

Concordo com Héctor, nessa ressalva, em parte (não tenho embasamento científico para afirmar que somos exclusivamente deste mundo). As demonstrações afetivas que ocorrem na Colômbia são justificadas por quanto o nome e o talento de Gabo colaboraram para colocar o país no cenário mundial em termos literários.

Mas a pergunta da qual não se ocupa o texto de Héctor  é: o que, de fato, mitifica um autor? Seriam seus livros, a sua capacidade de lidar com a mídia, seu bom trânsito entre “poderosos”. Porque, a Literatura em geral, é também um terreno onde, se a inveja(sentimento considerado menos nobre entre pessoas esclarecidas) matasse, teríamos velórios semanais no mercado editorial.

Entendi o ponto de vista de Héctor. Apenas acresço que, a forma como as pessoas reagem à morte de qualquer figura pública ou não é imprevisível. Não é a maneira como eu acho que deveriam se comportar que prevalecerá. Eu posso considerar mais ou menos exagerada essa ou aquela manifestação. Naturalmente, os desafetos do autor achariam melhor que ninguém dele se lembrasse post mortem. Quem ou o quê mitifica um ser humano? O diploma? A nobreza? O sobrenome? A morte, por ela mesma? A fama? A fortuna? O intelecto? A personalidade? Ora, desde a minha adolescência li autores que haviam morrido há centenas de anos e ficava a imaginar que tipos humanos eram aqueles capazes de provocar tantas sensações num simples leitor. E se os conhecesse de fato, em seu cotidiano? A magia e o encantamento prevaleceriam? A obra não é o autor? Ou eles passariam a ser, apenas, um bando de malucos que perdem um tempo precioso inventando histórias e enchendo laudas?

Não consigo me esquecer de um trecho da autobiografia do poeta chileno Pablo Neruda. Ele afirma nunca ter entendido como alguns poetas de sua geração, por ele considerado geniais, jamais publicaram ou alcançaram a visibilidade que ele alcançou. O que aconteceu com Neruda qualquer leitor de ginásio (pelas barbas do profeta) sabe. Então, quem decide qual autor ou personalidade será mais ou menos aclamada? A vendagem de livros? O prêmio Nobel? Algum escândalo? Eu tenho minhas dúvidas. Há autores, que passaram por todas essas situações, dos quais não lembramos sequer os nomes.

Á memória de Gabriel García Márquez cabe o respeito de seus pares, o carinho de seus leitores que não são poucos, as homenagens, que são um desdobramento do fato. Quanto ao homem, colombiano, nascido num vilarejo, só aqueles que o conheceram de perto podem dizer de que maneira, específica, tal figura ficará marcada em seus corações e mentes. É fato, cada um o percebia com interpretações, inconfundivelmente, peculiares.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Para ser reinventado

                                                            Lecy Pereira Sousa
Todo mundo é genial
Todo mundo é genial
Todo mundo é genial
Todo mundo é genial

Andando na selva
Pintando o sete
Fechando a prova
Descendo a ladeira
Causando na net
Bombando na pista

Virando a esquina
Fugindo de nós
Traçando um sonho
De doce ou de sal

Todo mundo é genial
Todo mundo é genial
Todo mundo é genial
Todo mundo é genial

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A arte de viajar e sobreviver

   Lecy Pereira Sousa

Tendo concluido a leitura de “Duas viagens ao Brasil”, escrito por Hans Staden e publicado nos idos (bote idos nisso) de 1557, numa terça-feira de Carnaval – algo tropicalmente sugestivo, o que devo dizer?

Seria legal se todos os brasileiros e brasileiras pudessem ler esse livro, mas é discutível se isso acontecerá nos próximos 500 anos, pelo fato de eu, mesmo, ter tido acesso ao livro em 2013. Considere, ainda, que  Hans Staden era um mercenário, curioso, viajando com plano traçado e sem um pingo de juizo, no sentido da temeridade. Um sujeito desbandeirar da Alemanha para uma gigantesca floresta selvagem (na visão dos europeus), no Século XVI, com intuito mais evidentemente comercial só podia ser ou louco, ou um homem cheio de fé em Deus. A propósito, ter fé em Deus ao ser feito prisioneiro por índios Tupinambás, canibais por excelência no trato com seus inimigos, seria uma questão de prudência.

Hans Staden escapou à mingau – e mingau era o que esses indígenas faziam para saborear todas as partes dos infelizes prisioneiros. Inclusive a flora intestinal.

Por um milagre, Hans Staden sobreviveu para contar a história, que muitas gerações devem ter lido com o
Hans Staden
mesmo ar de espanto que tal livro ainda provoca em quem o lê. Não deixa de ser um impressionante registro histórico da terra brasilis. Segundo o próprio Staden, esse livro é só um aperitivo do que ele vivenciou por essas bandas. É claro que esse relato fez com que os europeus pintassem o Brasil como um ninho de canibais. Na atualidade, não são poucos os que ainda pensam dessa forma.

Dividido em duas partes, trazendo capítulos com títulos quilométricos (uma característica literária daqueles tempos), essa edição da L&PM Pocket Descobertas tem a Introdução escrita por Eduardo Bueno, escritor e jornalista que tanto tem contribuido para desmistificar a gloriosa história da nossa pátria mãe gentil.

sábado, 5 de abril de 2014

Teorias de Guardanapo : Como divagar em 3 partes

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